03 agosto 2009

Tetra Neon Cardinal: Equívocos e Realidade





Olá a todos!
O Neon cardinal (Paracheirodon axelrodi) é um dos peixes ornamentais mais conhecidos e utilizados no mundo aquarístico, sua fama se iguala à dos Kinguios (Carassius auratus), Bettas (Betta splendens), Lebistes (Poecilia reticulata), etc. Também por ser notoriamente conhecido, circulam muitos boatos e mitos a seu respeito, justamente por isso, este artigo tem como objetivo esclarecer estes equívocos e oferecer informações sobre a ecologia e comportamento deste peixe de tamanha beleza.

Esta espécie foi descoberta por Hebert R. Axelrod na década de 50 e como uma forma de homenagem seu epíteto específico é axelrodi onde o “i” acrescentado dá a indicação de masculino
Pertence à família Characidae, que é a mais complexa e numerosa da Ordem Characiformes, devido à complexidade da família não é possível caracteriza-la somente com atributos externos e facilmente observáveis. Via de regra possuem o pré-maxilar não protátil e nadadeira adiposa normalmente presente.
Apresenta como característica principal a faixa neon, que percorre seu corpo horizontalmente e termina na base da nadadeira adiposa, e o ventre vermelho.



É de origem sul americana e está amplamente distribuído desde o Orinoco (Venezuela), pelo rio Vaupes e o norte e leste do rio Negro até o noroeste da Colômbia.
Vive em águas ácidas, cujo pH pode ser até menor que 4.0, quentes, moles e na maior parte escuras. O macho é menor, possui o ventre mais magro, retilíneo e apresenta uma pequena modificação no primeiro raio da nadadeira anal que se assemelha ao formato de um gancho ou anzol. Já a fêmea é o contrário é maior e possui o ventre volumoso, roliço, principalmente em época de desova. Podem atingir cerca de 5 cm quando adultos, são peixes cardumeiros e pacíficos e nadam à meia água e no fundo do aquário.

Qual a melhor alimentação para o Neon Cardinal?
Na natureza a espécie se alimenta de microcrustáceos e larvas de quironomídeos (Chironomidae, Diptera), enquanto ingestão de algas é pouco freqüente. Como são onívoros acabam comendo de tudo, então é importante acrescentar alimento vivo à sua dieta pelo menos uma vez por semana, podem ser daphnias, artêmias, enquitréias, etc. Outra coisa necessária que muitos aquaristas acabam não fazendo é adicionar ração a base de vegetais / algas à sua dieta para oferecer uma maior variedade de nutrientes.

Como ocorre a reprodução? Já foi feita em cativeiro?
O neon cardinal é uma espécie ovípara, são considerados disseminadores livres, pois a fêmea libera os ovos na água e o macho nada em volta fertilizando-os. Os ovos eclodem em 19 a 20 horas quando mantidos em temperatura entre 25 e 27ºC, após três ou quatro dias da eclosão os alevinos já consumiram o conteúdo do saco vitelino e começam a nadar. O alevino possui uma glândula adesiva grande no topo da cabeça que a ajuda a se prender no substrato ou nas folhas de plantas. Isso evita que sejam arrastados pela correnteza e se dispersem ficando desprotegidos e tendo como consequência a morte por predação.
Não ocorre o cuidado parental entre os peixes desta espécie e a partir do momento em que os filhotes apresentam nado livre pode-se dar rações específicas para alevinos de ovíparos e alimentos vivos como náuplios de artêmia, conforme os filhotes forem crescendo alimentos vivos maiores podem ser oferecidos.
Os filhotes só começam a apresentar as cores características da espécie com aproximadamente duas semanas de vida. Recomenda-se usar filtro interno de espuma ou então colocar perlon na entrada de água do filtro externo para evitar sugar os filhotes quando em aquários próprios para reprodução. A partir do 6 meses de idade e pouco mais de 2cm de comprimento, os cardinais já estão aptos a reproduzir.
A reprodução do neon em cativeiro não é impossível como muitos dizem, apenas exige mais atenção aos parâmetros da água e cuidados com o aquário do que com os outros tetras, mas a maioria absoluta dos neons encontrados para a venda no Brasil são coletados diretamente da natureza. Na Europa e Ásia a reprodução deles em cativeiro já vem sendo praticada por anos.

Quais os melhores parâmetros para os Neons em aquários?
Apesar de serem encontrados em águas muito ácidas em certas épocas do ano, a melhor faixa de pH para se manter a espécie em aquários vai de 5.0 a 6.6. Por viverem em águas ricas em ácidos tânicos e húmicos, além do pH ácido, é importante manter a dureza da água o mais baixa possível.
Por serem encontrados em regiões quentes, a temperatura da água deve ser elevada, sempre acima dos 26ºC e, apesar do calor causado pela intensa iluminação solar, por serem encontrados (na maior parte) em águas mais escuras a iluminação do aquário não deve ser muito forte, ou então, se puder mantenha plantas de superfície para criar algumas áreas com mais sombra. Não que a iluminação forte dos plantados chegue a afetar muito o peixe, mas se quer que ele se sinta mais confortável é melhor uma intensidade menor.
Em relação ao tamanho do aquário, obviamente quanto maior melhor, mas aquários a partir de 50 litros já comportam um pequeno cardume.
Um aquário ideal para neons e que possibilitasse a tentativa de reprodução deles seria um biótopo monoespécie, que representasse um pequeno igarapé com água quente, ácida, mole, escura, cheio de galhos / troncos, folhas caídas pelo substrato, fundo de areia e água mais calma.

O Neon é um peixe muito sensível que morre à toa?
Não!!!
Desde que tenha suas necessidades respeitadas é um peixe bem resistente, o problema é que ele percorre um belo trajeto (que será mais explicado ao final do artigo) desde a captura até chegar ao seu aquário. Isso inclui dias sem comer, exposição a altas concentrações de amônia, variações bruscas de temperatura e outros parâmetros, estresse, manejo inadequado. Sem contar que logo que chega à loja pode acontecer de não passar por uma aclimatação correta sofrendo choque de temperatura e/ou de pH, ser colocado com outros peixes maiores e sofrer mais estresse ainda, ser exposto a outros peixes doentes, enfim... Um caso que aconteceu comigo dias atrás foi comprar neons e, ao abrir o plástico em que vieram para começar a aclimatação, descobri pelo teste de pH que na loja eram mantidos em 7.4!!!
Se ele sobrevive a tudo isso, extremamente sensível é certo que não é. Só que o aquarista compra o peixe já debilitado por passar por tanto problemas e com o sistema imunológico baixo, se não for feita uma correta aclimatação, as condições do aquário não forem próprias para ele, for exposto a mais doenças e estresse, não é surpresa nenhuma que desenvolva alguma doença ou simplesmente morra “sem causa aparente”.
Neons são peixes de cardume, se não lhes é dada esta condição, podem se isolar e parar de comer, com isso, o peixe que já não estava bem antes, agora tem seu sistema imunológico ainda mais deteriorado e pode morrer por inanição ou ser acometido por alguma doença.
Exemplo prático: nas fotos abaixo você vê um neon meu que tem 3 anos ao lado de um neon recém comprado. Fica óbvia a fragilidade dos que acabam de ser capturados e são vendidos nas lojas, mas nem por isso são ditos “sensíveis que morrem a toa”.

Neon de 3 anos e neon recém chegado



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E a tal Doença do Neon? Quais os sintomas? Tem cura?
A chamada Doença do Neon Tetra ou Pleistophora é causada por um parasita esporozoário e, apesar do nome, não afeta somente os neons. Ataca a maioria da família dos tetras, ciclídeos como os Bandeiras, ciprinídeos como as Rásboras e Barbos e até mesmo os Kinguios.
É uma doença conhecida por sua rápida infestação e alta taxa de mortalidade, é causada pelo parasita Pleistophora hyphessobryconis e até hoje não se conhece uma cura para ela.
O ciclo da doença começa quando os esporos do parasita entram no peixe hospedeiro após o mesmo ter consumido alimento infectado como partes de um peixe morto ou alimento vivo. Uma vez dentro do peixe, o parasita se instala no trato intestinal, os embriões recém eclodidos dos esporos atravessam a parede do intestino e se instalam nos tecidos musculares produzindo cistos. Esses músculos que abrigam os cistos começam a morrer e o tecido necrosado se torna pálido, eventualmente ficando branco, o que explica a mancha clara característica nos animais infectados.
Alguns sintomas:
- Agitação;
- O peixe começa a perder a coloração;
- O peixe apresenta dificuldade para nadar;
- Em casos avançados a espinha dorsal do peixe pode se tornar curvada;
- Podem aparecer infecções secundárias como nadadeiras roídas e bloat;
- Conforme o cisto se desenvolve o corpo pode apresentar várias deformidades (pequenas massas sólidas, irregularidades);
Durante os estágios iniciais o único sintoma pode ser a agitação, principalmente durante a noite, é comum também o peixe infectado se separar do cardume. Eventualmente a natação se torna mais errática (irregular) e se torna bem óbvio que o peixe não está bem.
Conforme a doença progride, os tecidos musculares afetados começam a se tornar brancos, geralmente começando pelos músculos das áreas entre a faixa neon e a espinha dorsal. Quanto mais tecido muscular infectado maior é a mancha de coloração pálida. Os danos aos músculos podem causar a curvatura ou deformação da espinha, o que causa danos à natação. Não é incomum o peixe apresentar o corpo irregular causado pela deformidade dos músculos afetados pelos cistos.
Nadadeiras roídas, especialmente a caudal também não é incomum, entretanto, isso ocorre devido às infecções secundárias e não pelo resultado direto da própria doença causada pelo parasita. O bloat também pode ocorrer e é outro sintoma causado por infecções secundárias.
Qualquer peixe que apresente estes sintomas deve ser separado dos demais, sendo colocado em um aquário hospital para melhor observação já que existem outras doenças, causadas por bactérias, que podem apresentar sintomas semelhantes e possuem cura. Casos como estes inclusive podem dar uma falsa idéia de que o peixe tinha a doença do neon e foi curado, quando na verdade era uma bacteriose que ao ser tratada com algum antibiótico foi eliminada.
Como ainda não foi encontrada uma cura para esta doença, a prevenção é o melhor remédio! Não compre peixes de tanques que possuam outros peixes doentes ou mortos e peixes que não cardumeiam também são suspeitos. Além disso faça uma quarentena de peixes novos de 2 semanas e mantenha uma ótima qualidade da água para evitar qualquer queda no sistema imunológico dos peixes.
Já foram encontrados relatos de que o uso de remédios específicos contra protozoários, tais como Protozin, ajudaram a aliviar os sintomas da doença e que o uso de ácido Nalidíxico – normalmente usado para tratar doenças causadas por organismos gram-negativos – também aliviou os sintomas da doença. Em ambos os casos, não houve nenhuma comprovação científica de que o tratamento realmente funciona e apenas se fala em aliviar sintomas, nenhuma cura foi documentada cientificamente ainda.

Qual Neon eu tenho?
Apesar de o artigo ser focado no Neon Cardinal, é comum ocorrer confusão entre esta espécie e outras semelhantes também chamadas popularmente de “Neon”. Os mais parecidos são o Neon Verde (Paracheirodon simulans) e o Neon verdadeiro (Paracheirodon innesi), o Neon Verde é menor que o Cardinal e sua faixa neon passa pela nadadeira adiposa e vai até o pedúnculo caudal, já o Neon verdadeiro não possui todo o ventre vermelho, sua faixa vermelha começa na nadadeira anal e vai até o pedúnculo caudal. Além destas duas espécies, outras também possuem o nome popular de “Neon”, mas apresentam diferenças bem mais contrastantes referentes à cor, são elas o Neon Chocolate (Hyphessobrycon vilmae) e o Neon Negro (Hyphessobrycon herbertaxelrodi).

Como é feita a captura e o manejo do peixe?
No Brasil, o principal centro fornecedor de peixes ornamentais é a cidade de Barcelos, o estado do Pará até possui alguma produção, mas em pequena quantidade. O neon cardinal é a espécie mais importante e representa 80% do volume comercializado.
O desenvolvimento dos peixes ornamentais ocorre principalmente nos igapós e igarapés da floresta, áreas total ou parcialmente inundadas. A melhor época para a captura é durante a vazante e seca dos rios.
Quando o pescador de peixes ornamentais (piabeiro) localiza um cardume, ele o conduz para o rapiché ou puçá, e os transfere para o interior de cestas de palha forradas com saco plástico, com a água do igarapé.
Depois de capturados, os peixes são levados para um acampamento, onde são montados viveiros no próprio rio. Depois disso, são levados para Barcelos e, seguem uma viagem de 30 horas até Manaus, nas lojas de exportadores os peixes são mantidos em instalações de quarentena até serem exportados.

A venda do Neon cardinal foi proibida pelo IBAMA? Vou ficar sem poder comprar?
Não, a venda não é proibida, até porque, como já foi citado acima, ele é a espécie que mais é comercializada. O que acontece é que durante os meses das cheias – de maio a julho – a pesca e comercialização do neon cardinal é suspensa pelo IBAMA para que a sua reprodução na natureza seja garantida. Mas durante o resto do ano ele é comercializado normalmente.




Cinthia Emerich

Bibliografia Consultada:


*Este texto também pode ser encontrado na terceira edição da revista eletrônica Infoaqua

1 comentários:

Marcos Paulo disse...

Este texto também pode ser encontrado aqui...
http://aquarismo-hobbyepaixao.blogspot.com/2010/11/tetra-neon-cardinal.html

Abraço!